Cinemateca assinala a proximidade de aniversários redondos das independências africanas

Moçambique é o primeiro foco de ciclo dedicado ao cinema pós-independências, na Cinemateca Portuguesa.
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No dia 17 de abril, a Cinemateca Portuguesa deu o pontapé de saída para um Ciclo em três partes dedicado ao cinema feito em três ex-colónias portuguesas (Moçambique, Guiné-Bissau e Angola), numa das várias iniciativas inseridas nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

O foco da primeira parte do ciclo “Do Cinema de Estado ao Cinema Fora do Estado” será o cinema moçambicano, seguindo-se em maio o cinema guineense e em novembro a cinematografia angolana.

O ciclo

Coprogramado com a investigadora Maria do Carmo Piçarra, que há vários anos se tem debruçado sobre o cinema colonial português e as cinematografias das várias ex-colónias, este será um importante ciclo que dará a conhecer as várias fases e períodos de um cinema que começou por ter um forte investimento estatal, quando estes países quiseram cimentar a sua imagem e projetar-se enquanto novas nações através das imagens em movimento, até se tornar aos poucos um cinema pouco apoiado e de carácter mais independente.

O que se pretende é mostrar obras históricas em articulação com outras contemporâneas, com a presença na Cinemateca de alguns dos autores para falarem da sua obra com os espectadores.

Primeira parte do ciclo

Esta primeira parte do Ciclo será dedicada à cinematografia moçambicana, que Maria do Carmo Piçarra considera ter sido “referencial no contexto africano” logo em 1976, quando foi criado o Instituto Nacional de Cinema para dar formação em cinema à chamada “geração da utopia”.

A primeira sessão teve lugar no 17 às 19h e foi o exemplo do que pretende ser o ciclo, reuniu uma obra pioneira do cinema moçambicano pós-independência: “Mueda: Memória e Massacre”, de Ruy Guerra, um dos nomes internacionais que passaram por Moçambique naquela época e um dos títulos mais recentes desta cinematografia: “O Preto”, curta-metragem assinada por Ivo Mabjaia distinguida em 2021 com o Prémio Novos Autores Moçambique, atribuído pelo Fórum de Cinema de Moçambique – Kugoma.

Mueda: Memória e Massacre

Narrado pela história oficial como ponto de inflexão do colonialismo no país, ao incitar a formação de movimentos nacionalistas que culminaram na luta armada e na posterior Independência em 1975. Produzido poucos anos após a Independência, por encomenda do Estado, o filme de Ruy Guerra insere-se no debate político pós-Independência e projeta – através do cinema – o mito de Mueda no imaginário social e político do país.

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“Mueda, Memória e Massacre”, de Ruy Guerra

O Preto

A curta-metragem ficcional vencedora do Prémio Novos Autores Moçambique narra uma estória que reflecte os dilemas de uma sociedade “adormecida” que se vê governada por uma quadrilha composta por uma mulher e dois homens, um dos quais é o chefe do grupo.

Na sequência, o chefe do grupo é manipulado pelos seus subordinados e obrigado a tirar os bens das pessoas indefesas a favor dos membros do bando de malfeitores.

A trama remete a situações que sugerem um exercício metafórico sobre a forma como a corrupção e outros males ocorrem na sociedade. Como, por exemplo, na passagem em que uma mulher ora adormecida finalmente desperta e flagra o líder da quadrilha no exacto momento em que se apodera dos bens de uma outra pessoa vulnerável.

Para evitar ser denunciado, o líder da quadrilha compra o silêncio da mulher que o descobrira no acto criminal, dividindo com ela o produto do saque, para que a mesma voltasse ao sono e assim as acções do bando continuasse ao mesmo ritmo.

Durante os cinco minutos e cinquenta e nove segundos, Ivo Mabjaia descreve situações de astúcia, traição e crimes que marcam a vida de líderes corruptos.

Dia 20

No sábado, dia 20 de abril, ponto alto desta primeira fase do ciclo “Do Cinema de Estado ao Cinema Fora do Estado”, será realizada uma mesa redonda com a participação de três protagonistas da “invenção do cinema” moçambicano – José Luís Cabaço (Ministro da Informação de Moçambique a partir de 1980, impulsionador da “Nova Estratégia para a Imagem”), Luis Carlos Patraquim (escritor, autor de vários guiões do cinema feito em Moçambique, membro da redação do jornal de atualidades KUXA KANEMA), Camilo de Sousa (realizador) – e de um dos seus realizadores emergentes mais relevantes (Inadelso Cossa), a conversa percorrerá a história desta cinematografia desde a independência até ao presente.

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